“Grande período da história de Cariacica se perde no vácuo das cogitações lendárias.” Omyr Leal Bezerra

domingo, 27 de maio de 2012

Mula Sem Cabeça da Estrada Velha

Anos atrás, uma das ruas principais de Cariacica Sede era o caminho de uma criatura equina que cuspia fogo, os moradores diziam ser uma mula sem cabeça, devido ela andar desembestada pela estrada. Qualquer um que entrasse seu caminho seria pisoteado ou queimado.

Segundo a lenda a fera era uma mulher amaldiçoada pela sua promiscuidade, condenada a se tornar nesta criatura equina todas as sextas-feiras de lua cheia. O ataque da fera era terrível, pisoteando tudo a sua frente, o único momento em que ela se acalmava era quando comia sua fruta favorita, ela invadia quintais e plantações em busca de banana e em quanto ela se embuchava de banana era possível avistá-la sem perigo.

Boi Bubu

Muitos dizem que o nome do bairro Bubu surgiu na referência ao som da Maria Fumaça que passava pela região, seguindo pela estrada de ferro Vitória a Minas. Em outra versão o nome do bairro e do rio Bubu surgiu em referência ao Boi Bubu, que pertencia a uma das famílias mais antigas da região, este animal tinha beleza e porte incomparáveis, diziam ser lindo que os mercadores que vinham até o Porto de Cariacica seguiam o rio para vê-lo. O nome Bubu veio do mugido do boi “bu... bu...” que ecoava entre o vale e os morros que compõe o atual bairro, que na época era seu pasto. Logo todos diziam: _eu vou até o Bubu. Dizendo ir até onde ficava o boi, com o tempo o local ganhou o nome Bubu, assim como o rio que corta a região.

Cobra do Fogo

As Cobras do Fogo são entidades protetoras da floresta e responsáveis por apagar os incêndios na mata, elas eram as inimigas dos lenhadores e oleiros do Moxuara, apareciam na forma de grandes serpentes, uns dizem que eram semelhantes as surucucus.

As Cobras do Fogo apareciam para afugentar aqueles que queriam fazer mal a floresta, por vezes elas saiam das matas indo até os fornos das olarias, onde aterrorizavam os oleiros e enfrentavam o fogo, muitos diziam vê-las lutando contra as chamas, dando uma série de botes contra o fogo até apaga-lo, dai seu nome Cobra do Fogo. Após o fim das olarias no Moxuara, não se ouviu mais sobre as Cobras do Fogo.

Bruxas

As bruxas são entidades do mal, durante o dia elas têm a forma humana, mas no entardecer elas fazem um ritual secreto, se transformando borboletas a noite. Geralmente é chamada de bruxa a borboleta-coruja, uma espécie muito comum na região rural de Cariacica, devido a ser uma parasita da bananeira no estado de larva.

Na forma de borboleta a bruxa voa silenciosamente pela noite, entrando nas casas, invocando pragas e má sorte. As bruxas carregam consigo um pó magico que quando jogado nos olhos, cega a vítima que tenta a espantar ou matar, elas também possuem um pó para matar crianças, especialmente as de colo, a bruxa pousa sobre os lábios do bebê e jogam seu pó letal na boca da criança. Por isso deve-se espantar, com cuidado para não ser cegado, as borboletas que aparecem durante o entardecer e a noite nas casas.

sábado, 26 de maio de 2012

A pedra do frade

Dizem que no tempo dos jesuítas, os brancos e os índios viviam em guerra e cada um destes povos se dizia ser o mais forte, certa vez entraram em um conflito para definir de uma vez por todas quem era mais forte, o branco ou o índio.

Um frade jesuíta vendo a quantidade de feridos e mortos no conflito, pediu a Deus que provasse a todos os povos que o mais forte entre todos é Deus.

Dos céus Deus ouviu aração de tão temente servo e o transformou em um gigante fortíssimo, mas tão forte que o Frade conseguiu levantar o Monte Moxuara sobre a cabeça, mostrando aos brancos e aos índios que sua força era minúscula comparada ao poder de Deus, após mover a pedra o frade gigante se sentou sobre ela e lá seu corpo está petrificado até hoje, formando um apêndice na montanha semelhante a um homem sentado ao lado do Monte Moxuara.

João Bananeira

Por causa da distancia da região rural de Cariacica até o Convento da Penha, os moradores da região passarão a fazer uma festa para celebrar o dia da padroeira do estado. No tempo da escravidão os negros não podiam participar das procissões dos brancos, assim para não serem reconhecidos pelos seus senhores durante os festejos de Nossa Senhora da Penha, eles se cobriam com palha de bananeira, tecidos e mascaras, surgindo assim o João Bananeira, uma das figuras mais importantes do folclore cariaciquense. Alguns dizem que mulheres se fantasiavam de João Bananeira para participar da festa sem se preocupar com o protocolo.

Assombrações da Água

As Assombrações da Água são entidades femininas que aparecem nos rios e lagos, geralmente nos lugares onde as lavadeiras iam lavar suas roupas, em moinhos e cachoeiras. Estas assombrações são fantasmas de mulheres mortas de forma cruel ou que sofreram muito em vida, elas aparecem na forma de belas mulheres vestindo vestes brancas. Apesar de atacarem na água, elas espreitam suas vítimas nas árvores, quando a Assombração da Água vê o individuo indefeso e nadando distraído, ela rapidamente mergulha e afoga a pessoa.

A Pata

Diz à lenda que Cariacica Sede é anualmente visitada por uma enorme ave semelhante a uma pata ou gansa, esta ave na verdade é uma bela mulher que por ser a sétima filha mulher de sete filhas mulheres consecutivas foi encantada e condenada a se tornar uma enorme ave durante a noite, além de ter de se alimentar da carne dos mortos, a lenda ainda diz que o sétimo filho homem de sete filhos virará um lobisomem. Outros dizem que esta mulher na verdade é uma bruxa e se tornar em ave, além de ter que violar túmulos, faz parte de um pacto.

Sua transformação ocorre na quaresma, pois é quando a grande ave passa sobre a cidade em direção ao cemitério, por vezes ela pousa sobre o telhado de uma casa e faz muito barulho, os moradores não devem sair de dentro da casa, a visita desta entidade é um sinal de má sorte.

O Homem da Capa Preta

No tempo do Império do Brasil, mudou-se para Cariacica um jovem rico junto com sua família, segundo boatos o rapaz havia feito um pacto com o demônio para conseguir riqueza e prestigio, alguns diziam até que o rapaz era um lobisomem. Durante sua vida ele cometeu uma série de atrocidades e crimes, tantos que no fim de sua vida o próprio demônio mandou quatro espectros o buscarem de corpo e alma, da mesma forma que o diabo havia lhe servido em vida lhe dando riqueza, após a morte o rapaz serviria ao demônio lhe trazendo almas, assim foi dada a ele uma capa magica que o concedeu poderes, agindo como um emissário do anjo da morte.

O Homem da Capa Preta vaga a noite pelos bairros onde ficava sua imensa fazenda procurando pessoas, que como ele, são cruéis e gananciosas. Muitos dizem que ele se cobre com sua capa e se torna um lobo negro, vê-lo é um agouro de morte.

O Pássaro de Fogo

O Pássaro de Fogo é uma das figuras mais famosas do folclore cariaciquense, sua lenda lembra a origem de Rudá, o deus tupi do amor, que havia surgido para ser o mensageiro entre o sol e lua, assim como despertar o amor no coração das mulheres.

Segundo a lenda, onde hoje ficam as cidades de Cariacica e Serra, vivam duas tribos rivais. O chefe da tribo que habitava Cariacica teve uma filha lindíssima, esta princesa veio a se apaixonar por um valente guerreiro da tribo rival.

Dos céus, uma ave fantástica via o sofrimento do casal e seu amor proibido, decido a ajudar, o enorme pássaro levava princesa índia até o encontro de seu amado, mas mesmo com a ajuda sobrenatural, os jovens foram descobertos. O chefe da tribo irado pediu a um poderoso xamã que fizesse um feitiço para que os amantes jamais se encontrassem de novo, o velho curandeiro implorou aos deuses tal provisão e os deuses foram extremamente severos, eles prenderam os jovens amantes em prisões de pedra, transformando a princesa no Monte Moxuara e o guerreiro no Monte Mestre Álvaro, condenados a estar um de frente ao outro pela eternidade, mas sem se tocarem ou se falarem. Talvez por arrependimento das tribos ou dos deuses, os espíritos que habitam as florestas do Moxuara fizeram outro encanto. Uma vez por ano os jovens amantes se libertariam de sua prisão de pedra e o pássaro encantado lhes serviria por mensageiro, a ave fantástica se converteu em fogo e no dia 24 de junho é possível ver o pássaro de fogo rasgar os céus levando as eternas promessas de amor da princesa e do guerreiro.

Criaturas Quiméricas

As Criaturas Quiméricas de Cariacica são entidades com aparência de vários animais, geralmente uma mistura de touro e lobo, tais seres tem a capacidade de se transformarem em outros animais, assim se camuflando entre os animais domésticos. Quase sempre é citado com a forma de um grande cão, o que faz serem confundidos com lobisomens, porém tais criaturas nunca tomam a forma humana e também não são dotados do dom da fala. Essas criaturas tem o poder sobre o fogo e a capacidade de se materializarem e se desmaterializarem dentro deste, além da capacidade de entrarem em autocombustão.

As Criaturas Quiméricas aparecem mais na região rural, onde são chamadas de "lobisomens que se transformam em qualquer bicho", são muitos os que dizem que essas entidades estão a serviço do demônio, outros dizem que elas são demônios. As Quimeras estão associadas à morte de animais domésticos e os incêndios nas plantações e florestas, essas criaturas não atacam o ser humano, a não ser que sejam incomodadas, elas têm a força de um touro e a voracidade de um lobo, a única forma de expulsa-la é por meio de preces, rezas ou aguá benta.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Caboclinho D’Água

O Caboclinho D'Água do Moxuara é a entidade protetora dos lagos e pântanos, raramente aparecendo nos rios. Ele se parece com os humanos, porém é mais baixo, sua pele é escura acinzentada, por vezes quase negra e coberta de lama e plantas aquáticas, o que impede de ser visto com facilidade dentro da agua, lugar onde passa maior parte do tempo.

Ele ataca animais, principalmente patos e marrecos, assim como ataca pessoas, em especial crianças, que andam próximo ao lago onde mora, seu ataque e rápido e certeiro, o Caboclinho D'Água agarra a vítima e a arrasta para o fundo, prendendo-a nas plantas aquáticas ou atolando-a na lama argilosa para que a vítima morra afogada, desta forma, no Moxuara é comum encontrar animais afogados dentro das pequenas lagoas formadas pela extração de argila ou em várzeas.

A única forma de se precaver contra o Caboclinho D'Água é evitar pescar ou andar sozinho próximo aos lagos, já que ele só ataca pessoas desacompanhadas.

Origem do nome Cariacica

O nome Cariacica vem do nome do rio Carijacica que desce próximo ao Moxuara. Segundo a lenda o nome surgiu de uma luta entre brancos e índios.

No tempo dos primeiros conquistadores os índios que haviam feito alianças com os colonizadores se tornaram seus adversários, logo viriam os jesuítas para convertê-los e trazer a paz aos selvagens.

Diz à lenda que entre um grupo de colonos havia uma bela moça, tão bela que chamou a atenção dos índios. Talvez por sua beleza ou por ter algum laço com alguém importante na época, um grupo de valentes guerreiros a sequestrou e levou-a para tribo, que ficava em um lugar secreto em Cariacica. Foi então que um grupo de valentes colonos decidiu resgatar a donzela seguindo de canoas o rumo que os índios tomaram, na tribo todos estavam tranquilos acreditando que os portugueses jamais os encontrariam tão longe, foi quando se ouviu um grito: _Cari-jaci-caá! Que significa “chegada do homem branco”, logo todos os índios gritavam “Carijacica”, anunciando que os colonos haviam encontrado o local da tribo. Sendo surpreendidos, os índios foram subjugados e a donzela resgatada, o rio por aonde vieram os colonos ficou conhecido como Carijacica, marcando o local aonde chegavam os brancos. Mais tarde, ali por perto seria erguida uma missão jesuíta que nomearia a região de Carijacica, que o correr dos anos cuidou de abreviar em Cariacica.

Capitão do Mato

Capitão do Mato ou Caboclinho da Mata são nomes dados aos Caiporas das matas do Moxuara e redondezas, porém estas entidades estão mais associadas à proteção da flora do que a proteção da fauna, ou seja, enquanto o Caipora protege a vida animal da floresta o Capitão do Mato protege as árvores.

O Capitão do Mato tem uma relação tão íntima com as árvores que podem até conversar com elas, tendo um enorme ciúme delas e de seu território. Segundo a lenda os capitães do mato ganharam este nome dos escravos fugidos que entravam no território destas entidades, que iradas faziam os escravos se perderem e cair nas mãos dos capitães do mato que os caçavam.

Os capitães do mato aparecem na forma de um menino ou como um velho com a altura de uma criança, quando o Capitão do Mato descobre que há alguém andando pela sua mata, ele sai desembestado fazendo ruídos para assustar os invasores, uns dizem que ele até consegue mover as árvores para fazer os invasores se perderem, alguns os citam como homens sem cabeça, tamanha a ira destas criaturas, principalmente contra caçadores e lenhadores, dizem que eles chegam a babar de ódio, seu truque mais terrível é prender o invasor entre os maricás.

Assim como o Caipora, o Capitão do Mato tem fraqueza por cachaça e fumo e dar-lhe tais prendas é a forma de se livrar destas entidades, para isso o invasor deve deixar a oferenda em uma árvore e por vezes o próprio Capitão do Mato vem pedir fumo.

Nem sempre tal entidade é apresentada como má. Pela intimidade que Capitão do Mato tem com as árvores apenas eles sabem todos os segredos do poder medicinal das plantas e raramente os revela aos humanos. Os viajantes e comerciantes ofereciam fumo ao Capitão do Mato em troca de sua proteção durante a viagem, a entidade os seguia espantando os animais selvagens e malfeitores.

As vozes da floresta

Muitos dizem que no final do dia e no inicio da manhã é possível ouvir um assombroso canto próximo às matas do Moxuara e de Roças Velhas, este canto pertenceria as pobres almas condenadas dos primeiros desbravadores de Cariacica, estes teriam morrido aqui lutando contra os índios e a floresta, tais almas vagam ,por vezes só ou em grupos, pelas margens das florestas e pelas estradas desertas cantando ou assobiando, porem é mais comum ouvi-las do que vê-las. Geralmente aparecem com vestes longas e brancas, seus cabelos também são longos, brancos e reluzentes e sua pele é pálida. Elas permitem a poucos verem seus rostos, apesar de seu aspecto fantasmagórico, estas entidades são tidas como belas, vê-las é um sinal de mau agouro ou que alguém conhecido irá morrer.

Por vezes caminham até alguma casa onde fazem uma roda e dançam no terreiro, isso é um sinal que alguém naquela casa irá morrer, em outros momentos tais entidades batem na porta, rolam pedras na calçada ou perturbam os cães, alertando os moradores que algo de ruim poderá acontecer com a família.